segunda-feira, abril 23



Sem chocolate e sem som.
Por: Graci Sá
Eram cinco e meia da manhã, fazia um friozinho bom de toda madrugada de outono. E de repente... Ta lá... Dessa vez, foi uma moça, magra, pele clara, aparenta ter seus vinte e dois anos de idade. A sua moto rosa, está aos frangalhos jogada no acostamento.
Seu plano era chegar em casa, ligar pro namorado e avisar que chegou bem,abrir a geladeira comer o chocolate que ficou da páscoa, tomar um banho, ligar o som e  dormir. Antes que isso tudo pudesse acontecer, porém, encontrou com o carro prata.
A ligação para o namorado foi feita, afinal era o ultimo numero registrado no seu celular. A essa altura, já chegavam os urubus em forma de gente, querendo saber o que tinha acontecido, a polícia mandava sair, mais ninguém era besta de sair e “perder” toda a adrenalina.
Do carro prata, todo mundo saiu de pé, primeiro um rapaz meio gordo, meio alto e meio tonto, trocando as pernas, devia está assim pela pancada. Depois três moças saíram também todas muito animadas, até sorriam, o que era esquisito, já que tinham  acabado de sofrer um acidente.
A mãe da moça chegou. Cabelo preso em um coque, blusão de pijama, e calça jeans, sandália de dedo no pé e aflição no rosto. Quando viu sua filha desacordada pediu um muro pra se apoiar, recebeu um abraço. Era o namorado da filha.
O rapaz meio gordo era o dono do carro algoz, ele ainda estava meio tonto e se recusou a fazer bafômetro, disse que era gente importante, que eles ainda iam ter que pagar uma rodada de wisk por ter atrapalhado sua festa.  O policial pegou sua chave e sua habilitação, mais logo devolveu, acho que alguma coisa molhou a mão dele, por que ele enxugou com o tecido do bolso da calça.
As pessoas começaram a se dispersar, o trânsito voltou a andar. O carro prata já tinha ido, a moto rosa não estava mais no acostamento, só ficaram os minúsculos caquinhos de vidro denunciando o ocorrido.
O dia amanheceu, a moça não chegou em casa, não ligou para o namorado, não comeu o chocolate e nem ligou o som. Também não dormiu. Morreu. E entrou para estatística do Brasil.


2 comentários:

  1. Sem chocolate, sem som e eu ainda diria sem chance! Sem chance de vermos situações como essa, deixarem de servir de imspiração para gêneros textuais da nossa literatura.
    Parabéns querida, por estar antenada com as mazelas do trânsito consequência na maioria das vezes da impunidade.

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  2. Muito bom texto Graci Sá, "antenada com as mazelas do trânsito" como bem disse sua mãe e com tanta clareza ao escrever, demonstrando indignação ser ser sensacionalista, não resta dúvidas, serás uma grande jornalista. Deus te abençoe!

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