sexta-feira, agosto 3

Uma resenha crítica do livro " Festa Infinita"


Carlos Drumond Andrade, escreveu:
E agora, José? A festa acabou,  a luz apagou,   o povo sumiu, a noite esfriou,   e agora, José?   e agora, você? Você, que no caso de “Festa infinita” não é sem nome, “você” tem nome e sobrenome: Thomás Chiaverine. 31 anos, Jornalista de formação e ousado de alma e coração. Ele, em seu brilhante e intorpecente livro, sobre as raves no Brasil nos conta o que acontece “agora”  (antes, durante e depois das raves).
Thomás imergiu no submundo “reviano” e ao ler  o livro Festa infinita, que é resultado de sua apuração de longas noites sem dormir vividas e experimentadas por ele, somos levados juntos. Levados a descobrir, que a festa não acaba, a luz nunca se apaga e o povo nunca some. A noite até pode esfriar, mas os efeitos de MDMA ajudam a esquecer do frio.
A técnica de jornalismo literário usada pelo autor em festa infinita, em que os detalhes são peça chave para a apuração e descrição dos fatos, também foi sabiamente utilizada em seu livro reportagem “cama de cimento” de 2007, também da Ediouro editora. Em cama de cimento, Chiaverine, transcreve minunciosamente tudo que viu, ouviu, e viveu com os moradores de rua em São Paulo.
Quando peguei o livro -Festa infinita O entorpecente mundo das Raves- pela primeira vez, tive a impressão de que a mim foi lançado um desafio, pois nunca havia lido uma linha sequer sobre Raves, tinha em mim um pre- conceito (de conceituar previamente) devido ao que é veinculado nas mídias diárias.
O que traz tanto receio quanto ao tema “não é a imagem apocalíptica, de uma megarave na manhã de domingo, com toda a prefusão de rostos distorcidos, encaixados em corpos plastificados: humanos  transformados em zumbis, dançando feito maquina, repletos de energia química e recobertos por uma camada pegajosa de suor. Essa imagem apocalíptica não incomoda os pais de família por que são poucos os que se arriscam a ir conferir pessoalmente, O que mais assusta são as manchetes na imprensa,, os relatos, cada vez mais frequentes de mortes ocorridas durante as raves.”
Porém a leitura vai se tornando tão interessante e rica de informações, sobre a estória da Rave, do Psytrance,  de como tudo começou em Goa, que quanto mais se lê mais se quer ler, é um livro daqueles que você carrega na bolsa a todo momento, e sempre que dá, na fila do banco, no ônibus, ou até andando, você pode “ dar uma lidinha” nele. Me arrisco a dizer que até a pessoa mais ortodoxa, acharia interessante.
A partir do momento em que é narrado d-e-t-a-l-h-a-d-a-m-e-n-t-e, o universo Rave, os conceitos adquiridos previamente sobre esse tipo de festa que chegam a durar cinco dias ininterruptos de transe coletivo, se solidificam e se ampliam. Porém, temos a oportunidade de escutar e conhecer o outro lado. O lado Raver.
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 Ao longo das 284 paginas do livro, varias bizarrices e historias que parecem terem sidas escolhidas precisamente por Thomás, são apresentadas. Como a suspenção de “Coração Sangrento”, um jovem de apenas 19 anos, por ganchos de metal transpassados pelas suas costas, ou o grupo de ativistas do Fuck for Florest que fazem sexo, fotos e performances sexuais ao ar livre, dando como pretexto, salvar o planeta. Ou ainda, a história do calmo e bem sucedido Dj, Rica Amaral que abandonou a carreira odontológica para se dedicar, a produção de uma das mais reconhecidas festas do segmento rave, a Exxxperience.

Os personagens reais, ou com nomes fictícios também fazem parte direta ou indiretamente da cultura trance, o Dj Dimitri, Carolina e seus amigos da FAAP, ou o empolgado Rodrigo e sua contida namorada Cecilia que de uma forma ou de outra, ajudam a ilustrar tão bem o “admirável mundo rave”.
 Thomás define o publico frequentador das raves em dois grupos, “os que usam tranças dradlocks, roupas com tie dyes( técnicas de pintura sobre tecido), ponchos, echarpes de crochê, braceletes de material orgânico e tudo aquilo que seus inspiradores, os hippies, achariam esteticamente agradável. Veem as raves como uma filosofia de vida e boa parte deles é vegetariana, trata-se como medicina alternativa e se apropria de trechos de várias doutrinas religiosas- principalmente as orientais- para compor a própria crença”.
E o outro, que é geralmente maior nas megaraves,”não são vegetarianos, não querem saber de religões orientais e não pregam nada além do culto ao corpo. Usam cabelo raspado ou bem curto, calça jeans e desfilam sem camisa, exibindo músculos depilados, estufados de maltodextrina,sem uma grama de gordura. As meninas usam bota plataforma, calças que embalam as curvas e tops justos transbordando de silicone.”
Todos eles, com dreadlocks, ou não, vão às raves e festivais em busca de alguma coisa seja, paz, amor, união, respeito, ou roupas coloridas, vegetarianismo, reuniões em meio a natureza, em locais como Pratigi ou Auto Paraíso, ou LSD, MDMA, cocaína, crack, maconha ou álcool. O autor, faz uma critica a esses ravers, que “por mais que falem em paz, amor, união ou respeito,ou que preguem a comunhão com a natureza, os ravers dificilmentese organizarão como um movimento e sairão às ruas com faixas estampando seus ideais.”
Um outro ponto que é bastante interessante, é a preocupação que o jornalista tem, em demostrar os efeitos da droga, como ocorre o trafico dentro das festas, as revistas que são feitas mal e porcamente  nas portarias e as cenas mais banais de jovens, se drogando, passando mal, ou entrando em badtrips. Isso se torna mais claro, no momento em que ele não se contenta em apenas descrever como é a reação da mistura de ecstasy com o som do psytrance nos outros, e resolve experimentar pela primeira vez a “bala”com a bicicleta em relevo, transformando o penúltimo capitulo em um relato pessoal e verídico de como o ecstasy age no organismo humano.
Ao final da leitura, estamos cansados, mas não de uma forma negativa, cansados quase como os ravers que acabaram de sair de cinco dias de festa e voltam para casa e  para seus banheiros limpos com pinho sol. A mente fica a mil, tentando resgatar cada pedaço do livro para não esquecer nem uma parte importante. e sem perceber,iniciamos uma marketing boca boca e  começamos a falar dele para todo mundo que conhecemos.







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