Carlos Drumond Andrade, escreveu:
E agora, José? A festa acabou, a luz
apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora,
José? e agora, você? Você,
que no caso de “Festa infinita” não é sem nome, “você” tem nome e sobrenome:
Thomás Chiaverine. 31 anos, Jornalista de formação e ousado de alma e coração. Ele,
em seu brilhante e intorpecente livro, sobre as raves no Brasil nos conta o que
acontece “agora” (antes, durante e
depois das raves).
Thomás imergiu no submundo “reviano” e ao ler o livro Festa infinita, que é resultado de
sua apuração de longas noites sem dormir vividas e experimentadas por ele,
somos levados juntos. Levados a descobrir, que a festa não acaba, a luz nunca
se apaga e o povo nunca some. A noite até pode esfriar, mas os efeitos de MDMA
ajudam a esquecer do frio.
A técnica de jornalismo literário usada pelo autor em festa
infinita, em que os detalhes são peça chave para a apuração e descrição dos
fatos, também foi sabiamente utilizada em seu livro reportagem “cama de cimento”
de 2007, também da Ediouro editora. Em cama de cimento, Chiaverine, transcreve
minunciosamente tudo que viu, ouviu, e viveu com os moradores de rua em São
Paulo.
Quando peguei o livro -Festa infinita O entorpecente mundo
das Raves- pela primeira vez, tive a impressão de que a mim foi lançado um
desafio, pois nunca havia lido uma linha sequer sobre Raves, tinha em mim um
pre- conceito (de conceituar previamente) devido ao que é veinculado nas mídias
diárias.
O que traz tanto receio quanto ao tema “não é a imagem
apocalíptica, de uma megarave na manhã de domingo, com toda a prefusão de
rostos distorcidos, encaixados em corpos plastificados: humanos transformados em zumbis, dançando feito
maquina, repletos de energia química e recobertos por uma camada pegajosa de
suor. Essa imagem apocalíptica não incomoda os pais de família por que são
poucos os que se arriscam a ir conferir pessoalmente, O que mais assusta são as
manchetes na imprensa,, os relatos, cada vez mais frequentes de mortes
ocorridas durante as raves.”
Porém a leitura vai se tornando tão interessante e rica de
informações, sobre a estória da Rave, do Psytrance, de como tudo começou em Goa, que quanto mais
se lê mais se quer ler, é um livro daqueles que você carrega na bolsa a todo
momento, e sempre que dá, na fila do banco, no ônibus, ou até andando, você
pode “ dar uma lidinha” nele. Me arrisco a dizer que até a pessoa mais
ortodoxa, acharia interessante.
A partir do momento em que é narrado d-e-t-a-l-h-a-d-a-m-e-n-t-e,
o universo Rave, os conceitos adquiridos previamente sobre esse tipo de festa
que chegam a durar cinco dias ininterruptos de transe coletivo, se solidificam
e se ampliam. Porém, temos a oportunidade de escutar e conhecer o outro lado. O
lado Raver.
.
Ao longo das 284 paginas
do livro, varias bizarrices e historias que parecem terem sidas escolhidas
precisamente por Thomás, são apresentadas. Como a suspenção de “Coração
Sangrento”, um jovem de apenas 19 anos, por ganchos de metal transpassados
pelas suas costas, ou o grupo de ativistas do Fuck for Florest que fazem sexo,
fotos e performances sexuais ao ar livre, dando como pretexto, salvar o
planeta. Ou ainda, a história do calmo e bem sucedido Dj, Rica Amaral que
abandonou a carreira odontológica para se dedicar, a produção de uma das mais reconhecidas
festas do segmento rave, a Exxxperience.
Os personagens reais, ou com nomes fictícios também fazem
parte direta ou indiretamente da cultura trance, o Dj Dimitri, Carolina e seus
amigos da FAAP, ou o empolgado Rodrigo e sua contida namorada Cecilia que de
uma forma ou de outra, ajudam a ilustrar tão bem o “admirável mundo rave”.
Thomás define o
publico frequentador das raves em dois grupos, “os que usam tranças dradlocks, roupas com tie dyes( técnicas
de pintura sobre tecido), ponchos, echarpes de crochê, braceletes de material
orgânico e tudo aquilo que seus inspiradores, os hippies, achariam
esteticamente agradável. Veem as raves como uma filosofia de vida e boa parte
deles é vegetariana, trata-se como medicina alternativa e se apropria de
trechos de várias doutrinas religiosas- principalmente as orientais- para
compor a própria crença”.
E o outro, que é geralmente maior nas megaraves,”não são
vegetarianos, não querem saber de religões orientais e não pregam nada além do
culto ao corpo. Usam cabelo raspado ou bem curto, calça jeans e desfilam sem
camisa, exibindo músculos depilados, estufados de maltodextrina,sem uma grama
de gordura. As meninas usam bota plataforma, calças que embalam as curvas e
tops justos transbordando de silicone.”
Todos eles, com dreadlocks, ou não, vão às raves e festivais
em busca de alguma coisa seja, paz, amor, união, respeito, ou roupas coloridas,
vegetarianismo, reuniões em meio a natureza, em locais como Pratigi ou Auto
Paraíso, ou LSD, MDMA, cocaína, crack, maconha ou álcool. O autor, faz uma
critica a esses ravers, que “por mais que falem em paz, amor, união ou
respeito,ou que preguem a comunhão com a natureza, os ravers dificilmentese
organizarão como um movimento e sairão às ruas com faixas estampando seus
ideais.”
Um outro ponto que é bastante interessante, é a preocupação
que o jornalista tem, em demostrar os efeitos da droga, como ocorre o trafico
dentro das festas, as revistas que são feitas mal e porcamente nas portarias e as cenas mais banais de
jovens, se drogando, passando mal, ou entrando em badtrips. Isso se torna mais claro, no momento em que ele não se
contenta em apenas descrever como é a reação da mistura de ecstasy com o som do
psytrance nos outros, e resolve experimentar pela primeira vez a “bala”com a
bicicleta em relevo, transformando o penúltimo capitulo em um relato pessoal e
verídico de como o ecstasy age no organismo humano.
Ao final da leitura, estamos cansados, mas não de uma forma
negativa, cansados quase como os ravers que acabaram de sair de cinco dias de
festa e voltam para casa e para seus
banheiros limpos com pinho sol. A mente fica a mil, tentando resgatar cada
pedaço do livro para não esquecer nem uma parte importante. e sem perceber,iniciamos
uma marketing boca boca e começamos a
falar dele para todo mundo que conhecemos.
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